E O MUNDO GANHA JUÍZO TAMBÉM…
A minha educação (assim como a da maioria das pessoas) teve por base diversos pressupostos entre os quais o facto de que desenhar era uma coisa que se fazia nas horas livres ou quando os adultos nos queriam sossegados e distraídos de brincadeiras barulhentas e incómodas. Por isso, quando me decidi a ir tirar o curso de artes plásticas – relativamente ao qual nunca tive dúvidas, não obstante a minha educação – apesar de não ter havido impedimentos por parte dos meus pais, não houve também grandes emoções. Com a minha avó foi diferente. Apesar de também nunca me ter mostrado qualquer desagrado, penso que, de facto, só há poucos anos é que ela percebeu que a neta era pintora, porque para ela, durante muito tempo, eu andei a tirar o “curso de arquitecta” – pois com certeza, artista plástica não é profissão, é hobby! – não a posso censurar; afinal de contas cheguei a ter um professor que defendia que as Belas-Artes não deveriam ser uma escola superior, mas de artes e ofícios…
Felizmente as mentalidades estão a mudar. A prova disso é que no início de Março decorreu, no Centro Cultural de Belém, a Conferência Mundial de Educação Artística, onde foi discutida a crescente desvalorização da Arte nos sistemas educativos e quais as formas de alteração desta situação. Só é pena é que os nossos cientistas e intelectuais – os génios da humanidade! – tenham demorado tanto tempo a chegar a esta brilhante conclusão! Podiam-me ter perguntado…
De facto, num mundo tão virado para a racionalização e automação de procedimentos, é natural que nos tenhamos esquecido de algo tão primordial como a emoção, a criatividade, a intuição e o instinto, bases fundamentais da educação artística. Estamos a educar pessoas ou autómatos? Queremo-nos seres pensantes ou simplesmente executantes?
Por outro lado, a arte tem uma dupla vertente, tendo a capacidade de elevação do espírito, de descontracção, relaxamento, mas também de estimulação intelectual. Faz-nos reflectir, elaborar ideias e executá-las; estimula a autoconfiança e torna-nos melhores pessoas. O sistema de ensino está organizado de forma a transformar-nos em esponjas absorventes de verdades absolutas. Não fomenta a capacidade crítica, a dúvida, o questionamento daquilo que nos é “ensinado”.
Há que pôr a tónica no apre(e)nder, mais do que no ensinar.
Certo?
Até amanhã.